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Seguimos vives e criando formas de continuarmos juntes. Isso é sinal de que nossa organização tem dado certo até o momento. Agradecemos aos apoiadores, sempre presentes em nossas mobilizações e fundamentais para que tudo aquilo que produzimos, circule e alcance lugares da cidade e do campo, do Brasil e América Latina, da política do dia a dia na vizinhança, nas feiras semanais, conselhos regionais, até os fóruns e as audiências legislativas. 

Esse comunicado é para contar dos passos dados até agora para proteger o Mercado Sul dos ataques daqueles que querem, em nome do lucro individual, apagar a história que aqui é produzida, que ignoram que Mercado Sul é não só passado, mas também presente e futuro daqueles que constroem o Distrito Federal. 

Lembramos que entre no primeiro Comunicado deste ano, elencamos três ações de resistência, em junho deste ano visavam: (1) barrar o despejo, (2) criar um fundo para negociar um valor justo para a compra das lojas em disputa judicial e (3) registrar o Mercado Sul como patrimônio histórico e cultural do DF. 

(1) Sobre despejo barrado:  

Diante da ameaça do despejo, da doença e da crise econômica contra as classes de não proprietários, foi de extrema importância para nosso esperançar a reaproximação com o Assentamento Terra Vista, quando pudemos nos afirmar como parte da Teia dos Povos, que agrega territórios coletivos em luta por autonomia em todo Brasil. Cabe destacar ainda a vitória que foi regularizar o acesso de serviço de água na lojas ocupadas e conseguir montar um banco de alimentos comunitário graças a enorme rede de luta e solidariedade que compomos no DF. 

Continuamos ocupando com nossos corpos e nossas artes, sabendo que isso  só é possível graças à ampla mobilização de vários grupos e setores da sociedade que fizeram pressão social tornando inaceitável o despejo durante a pandemia. Não podíamos deixar porém, de nos solidarizamos com as dezenas de pessoas que sofreram despejo no Distrito Federal, a mando do atual governador, passando por cima não só das casas, mas também da lei que proibia tais ações.

(2) Sobre o fundo para compra das lojas:

Entendemos que essa estratégia complexa e ousada. Ela exige não só que a gente consiga arrecadar uma grande quantidade de dinheiro por via de doações, mas também implica em jogar as regras de um jogo injusto e em aceitar que aquilo que está escrito no papel velho é a verdade, ou seja, que as lojas são propriedade do antigo dono que as abandonou e que, por tanto, devemos comprá-las se quisermos aqui permanecer. Implica ainda que esse tal dono aceite vendê-las para nós e não para outras pessoas que lhe pareçam mais simpáticas, mais afins ao aprofundamento do planos de segregação da cidade. Ainda assim, a perspectiva de comprar as lojas permanece em nosso horizonte e que trabalhamos para que amadureça. 

(3) Sobre o registro patrimonial:

Nosso desejo maior é que sejamos reconhecidos enquanto aqueles que não só cuidam, mas produzem o Mercado Sul enquanto território histórico e cultural do DF. Para isso, realizamos uma sequencia de encontros no intuito de estudar e discutir com diversos atores da cidade, se e por que o Mercado Sul pode ser considerado um Patrimônio Cultural do Distrito Federal. Dessas oficinas participaram especialistas acadêmicos, artistas de todas as quebradas, de várias gerações, moradores, defensoria pública, conselho de cultura, lideranças de movimentos, partidos e de mandatos legislativos. De maneira participativa elencamos os motivos que legitimam todo território do Mercado Sul enquanto patrimônio material e imaterial e o aclamamos em assembleia popular que o Mercado Sul já é de fato patrimônio cultural, só precisa ser oficialmente reconhecido.

Nossa demanda não é por um tipo elitista de tombamento que dificultaria a pessoas e algumas de suas manifestações culturais permanecerem no local. Isso seria incompatível com o que hoje faz do Mercado Sul um lugar vivo e tão importante. Mas exigimos o registro do território e das suas expressões, dos ofícios, dos lugares, dos saberes, dos objeto e das celebrações, sabendo que Mercado Sul transborda a essas categorias individualmente, pois é mais do que cabe no arquivo, é ponto de encontro, de aprendizagem, de acolhimento, de trocas e de afetos que precisa se compreendido de maneira integrada.  

Mercado Sul foi criado há sessenta e três anos, durante o processo de construção de Brasília. Apesar de ter passado por muitas histórias e transformações, este território manteve no decorrer dos anos suas características fundamentais e desenvolveu tecnologias próprias. Por isso, em um período de ataques diversos a territórios culturais tradicionais e periféricos do Distrito Federal, a comunidade local organizada no movimento Mercado Sul Vive decidiu lutar pelo reconhecimento do Mercado Sul como Patrimônio Cultual e Histórico do DF.  Estamos falando de parte da história não contada sobre Brasília e por isso, sofre com as práticas de apagamento diante das narrativas hegemônicas e modernistas. O registro que solicitamos tem como consequência obrigar o poder público a criar formas de salvaguardar o patrimônio, de garantir a continuidade das atividades e de valorizar os mestres populares e todos seres brincantes e encantados que aqui se manifestam.

Nossos próximos passos são: (1) enviar à Secretaria da Cultura a documentação produzida durante os encontros, embasadas na enorme quantidade conteúdos criados anteriormente pelos próprios membros e apoioadores do Mercado Sul e (2) dar sequencia à campanha para que o processo de registro seja acatado e concluído o mais rápido possível, tendo em vista que a ameaça do despejo ainda persiste.

Convidamos todos e todas parceiras a somar neste processo. Temos quatro caminhos para quem quiser colaborar:

1 – Assine o documento que enviaremos à SUPHAC demandando o reconhecimento do Mercado Sul como Patrimônio Histórico e Cultural do DF: pode ser sua organização, seu mandato ou mesmo subescrever individualmente. Assim que tivermos o documento pronto convidaremos quem quiser somar.

2 – Ajude a preencher o documento técnico que enviaremos à SUPHAC: Estamos preenchendo as fichas e juntando os arquivos para fazer o pedido oficial do Mercado Sul como Patrimônio. Caso você disponha de tempo e tope ajudar nesta tarefa, estamos fazendo mutirões para esta demanda. 

3 – Divulgue a campanha! Estamos produzindo materiais com o chamado Mercado Sul é Patrimônio. A divulgação ampla dessa ideia pela nossa rede de apoio é fundamental!

4 – Mobilize outros atores! Organizações, coletivos, movimentos, quilombos, assentamentos, ocupações, territórios, agentes diversos da sociedade civil são nossos aliados principais nesta luta.

5 – Pressione autoridades! É importante que ‘os de cima’ sejam sempre pautados sobre a importância da nossa causa. Sempre que puder colaborar nesta tarefa agradecemos com nosso coração.

O Mercado Sul é de todas nós, de todos nós! Mercado Sul é de todes. É nosso! 

MERCADO SUL É PATRIMÔNIO!

Taguatinga, 01 de novembro de 2021